O Museu do Círio, em Belém, recebeu uma visita especial nesta quinta-feira (10). Aos 80 anos, José Maria Cabral Corrêa revelou a história por trás de um dos itens mais curiosos do acervo: a réplica de uma geladeira. Ele contou que em 1987 confeccionou e levou a peça na cabeça, em agradecimento a Nossa Senhora de Nazaré, da Igreja da Sé até a Basílica Santuário. O reencontro do autor com a materialização do seu ex-voto ocorreu quase 36 anos após a experiência do promesseiro no Círio.
José Maria Corrêa diante da peça, que conserva há décadas uma história de fé e agradecimento“Eu fiquei muito feliz de encontrar essa peça aqui. Olhar pra ela me permitiu reviver tantas coisas. São várias memórias e muita gratidão. Quem a viu aqui foi uma sobrinha, que logo ligou pra mim dizendo sobre a geladeira. Isso foi em maio, e eu fiz questão de vim aqui. Sempre venho a Belém uma vez por ano, e agora teve um motivo mais especial ainda”, disse José Maria, que atualmente mora em Araguari, interior de Minas Gerais.
Nascido em 1943, ele passou parte da vida em Recife (Pernambuco), onde trabalhou na fábrica da Brastemp por 11 anos antes de realizar o sonho de ter uma concessão da marca. Quando finalmente alcançou seu objetivo, em 1987, José teve a ideia de construir uma geladeira e trazê-la para sua terra natal, Belém. Ele passou três meses trabalhando na peça, e chegou a receber ajuda com a pintura e o transporte.
A geladeira, que pesa 26 quilos, foi construída em lambril. É oca e tem um espaço na parte de baixo onde foi acoplado o capacete usado por José na procissão, além de um espaço para permitir sua visão.
Após o Círio, a geladeira foi deixada na Basílica de Nazaré, onde ficou por anos, até compor o acervo do Museu do Círio. A peça impressiona pela fidelidade a uma geladeira original da mesma marca e época, tendo até a réplica de um motor.
Símbolo de fé - A diretora do Museu do Círio, Rosemarie Maçaneiro, acompanhou o reencontro de José com a peça que simboliza sua gratidão. “Não é apenas uma peça de museu; é um símbolo de sua jornada, fé e criatividade”, disse a diretora, destacando que a geladeira sempre despertou interesse e curiosidade entre os visitantes, tornando-se uma peça enigmática no acervo.
A geladeira, segundo Rosemarie Maçaneiro, deixava uma interrogação para os visitantes. “Agora, com a visita do seu José, o Museu finalmente entende o porquê da sua existência. Ele é um artesão de primeiríssima, e ficou bonito. Agora, a gente vai poder contar histórias bem de perto com quem realmente viveu a fé e produziu e materializou para mostrar pra gente uma história tão bonita. É a fé, é o amor, é a arte, tudo junto”, acrescentou.
Acervo - O Museu do Círio reúne, desde 1986, peças confeccionadas em miriti, ex-votos (símbolos das promessas feitas pelos fiéis), mantos, berlinda e outros ícones da maior festividade religiosa dos paraenses, o Círio de Nazaré.
Em 2022, o Museu foi reinaugurado, passando a integrar o Complexo Feliz Lusitânia, no bairro da Cidade Velha, centro histórico de Belém. O funcionamento é de terça-feira a domingo, das 9 h às 17 h.
Texto: Amanda Engelke - Ascom/Secult