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Exposição e roda de conversa relembram o Massacre do Brigue Palhaço

Outubro avançava e o Pará - à época, Província do Grão-Pará - há exatos 200 anos, vivenciava um dos capítulos mais marcantes de sua história. Às margens da Baía do Guajará, na altura do Ver-o-Peso, em Belém, 256 pessoas eram aprisionadas no porão do brigue São José Diligente, em meio a reivindicações por equiparação salarial e outras demandas no contexto da Independência do Brasil e da Adesão do Pará. Este episódio, que resultou na morte de 252 delas naquele local, conhecido como o Massacre do Brigue Palhaço, foi o tema de uma roda de conversa na tarde desta sexta-feira (20), no Museu do Estado do Pará.

Promovida pelas Secretarias de Estado de Cultura (Secult) e de Igualdade Racial e Direitos Humanos (Seirdh), a atividade contou com a participação de estudiosos do episódio, como os professores doutores Magda Ricci e José Alves de Souza Júnior, da Universidade Federal do Pará (UFPA). Além deles, participaram o professor mestre João Lúcio Mazzini, da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), a historiadora Edilza Fontes, secretária em exercício da Seirdh, Leonardo Torii, diretor do Arquivo Público do Pará, e Márcio Alves, coordenador de Conservação e Restauro do Museu de Arte de Belém. 

Na ocasião, além de resgatar a memória, os participantes propuseram uma reflexão sobre o episódio como símbolo da luta pelos direitos humanos. A proposição foi o tema da roda de conversa. “Para nós, esse é um tema muito caro. Temos a missão de fazer esta reparação histórica. Mas para além disso, nós precisamos visibilizar o que foi este massacre. É um episódio silenciado pela história e que precisamos trazer à tona. E, a partir disto, criar instrumentos para pesquisas acadêmicas e para o desenvolvimento de recursos pedagógicos que possam ser aplicados em sala de aula”, afirmou a secretária Edilza Fontes.

Leonardo Torii defendeu a importância de relembrar o massacre a partir de uma nova perspectiva. “O Brigue Palhaço foi, de fato, uma violação aos direitos humanos. No entanto, essa perspectiva é contemporânea. Na época, não se falava em direitos humanos. Mas isto não significa que não possamos fazer as reparações necessárias. Recordar, além de ser um ato de justiça social, nos permite lembrar os nomes das pessoas que morreram nesse momento trágico. A história serve justamente para isso, e o passado nos ajuda a repensar nosso presente, o que queremos como sociedade, nação e estado”, defendeu o diretor. 

Além dos 252 mortos asfixiados no porão da embarcação, os quatro sobreviventes (até então), também foram mortos logo após serem achados com vida, totalizando 256 pessoas mortas no massacre. Os nomes estão expostos na parede do salão transversal do MEP, e foram destacados durante o evento. Eles foram retirados de um documento chamado “Devassa”, que está sob a salvaguarda do Arquivo Público Nacional, na cidade do Rio de Janeiro. A ideia debatida durante a mesa foi de trazer este documento para Belém. Além disso, também foi debatido um Protocolo de Intenções junto ao Arquivo Nacional. 

Exposição - Pela manhã, também no Museu do Estado, foi aberta a exposição “Devassa Governamental da Tragédia do Brigue Palhaço”, que pode ser visitada pelo público em geral até o dia 29 de outubro. Assim como a roda de conversa, ela faz parte da programação organizada pela Seirdh e pela Secult em alusão aos 200 anos do massacre. O objetivo, além de relembrar o episódio, é resgatar a verdade e a memória deste importante capítulo da história do Estado do Pará. A mostra pode ser visitada de terça a domingo, das 9h às 17h. A entrada é gratuita.

A exposição conta com cópias de documentos que narram o contexto da época e o próprio acontecimento, cedidos pelo Arquivo Público do Pará. Entre eles, encontra-se um relatório que detalha a noite do ocorrido. Na ocasião, a força naval Imperial estava sob o comando de John Pascoe Grenfell. A exposição conta, ainda, com a obra “Brigue Palhaço”, de Romeu Mariz Filho, pertencente ao acervo do Museu de Arte de Belém e cedida especialmente para a programação pela Fundação Cultural do Município (Fumbel). Trata-se de uma tela naturalmente escura de 1947. 

O professor Caio Coutinho, de 28 anos, que acompanhou a mesa, fez questão de visitar a  exposição. Ele contou que soube do evento através das redes sociais. “É uma excelente programação, principalmente para os acadêmicos, porque você não pode falar daquilo que você não sabe. Esse tipo de atividade ajuda muito a visibilizar esse tipo de conteúdo. Serve como incentivo para que todos nós possamos conhecer a nossa própria história e nos aprofundarmos nisso para levarmos para dentro da sala de aula, ajudando nossos alunos a identificarem esses fatos no dia a dia, ao passarem pelo Ver-o-Peso, por exemplo”, disse o professor. 

Quem visitar a exposição também poderá assistir a um vídeo que contextualiza o episódio do Brigue Palhaço. Nele, a professora doutora Magda Ricci narra o contexto e os fatos ocorridos após a Adesão do Pará, pouco tempo depois, no mês de outubro, em Belém. O diretor do Arquivo Público, Leonardo Torii, também contribui explicando o acervo de documentos que integram a exposição. Entre eles, correspondências trocadas entre as autoridades da época, de Belém com as Rio de Janeiro, que relatam o episódio e agregam na experiência da exposição, para entender e rememorar um dos episódios mais emblemáticos da história do Pará. 

Serviço:
Exposição “Devassa Governamental da Tragédia do Brigue Palhaço”
Período: de 20 a 29 de outubro
Horário: 9h às 17h, de terça a domingo
Local: Salão Transversal do Museu do Estado do Pará – Praça Dom Pedro II, S/n, Cidade Velha
Entrada gratuita

Texto: Amanda Engelke - Ascom/Secult