Na noite desta terça-feira (5), a Secretaria de Estado de Cultura (Secult), por meio do Museu de Arte Sacra (MAS), promoveu a roda de conversa “Da bandeira branca ao homem rio: percurso literário de Benedicto Monteiro”. Wanda Monteiro, filha de Benedicto e pesquisadora da trajetória literária do autor, participou do bate papo com o diretor do MAS, Emanuel Franco e a professora Tânia Pantoja.
A ação faz parte do movimento de homenagem e salvaguarda da obra de Monteiro. Popularmente conhecido como Bené, o autor paraense completaria 100 anos em 2024. A iniciativa começou no dia 29 de fevereiro, com a abertura da exposição “Benedicto Monteiro - 100 anos”.
“Quando a gente propôs essa roda de conversa, pensamos justamente em estender tudo aquilo que está contido na exposição, para ser discutido dentro de um outro momento. Então, essas duas coisas se associaram perfeitamente para atingir o objetivo da Secult, do Sistema Integrado de Museus e do Governo do Estado, de prestar essa homenagem ao Benedicto Monteiro.” Conta Emanuel Franco.
O título da roda de conversa sugere um passeio completo pelo trabalho do autor, tendo em vista que seu primeiro livro, publicado em 1945, recebeu o nome "Bandeira Branca", e o último "O Homem Rio".
“Foi uma conversa para ilustrar todo esse percurso literário dele, e a ideia era realmente fazer uma leitura afetiva, com o contraponto da leitura acadêmica da professora Tânia, por isso a convidei para participar hoje. E a gente conseguiu, realmente, falar com tanta afetividade, com tanto sentimento e sobretudo, serenidade, apesar de percorrer uma jornada de dor, de contar sobre a tortura que ele sofreu.” Afirma Wanda Monteiro.
“Esse caminho de comemorações para mim não está sendo fácil porque é uma profusão de sentimentos, de memórias que vem à tona, mas é uma coisa que eu tenho que cumprir como filha, como curadora da obra dele. Nós somos cinco filhos, que estão vivendo e revivendo essas histórias, de alguma forma uma celebração deste Centenário do Bené. Está sendo difícil, mas ao mesmo tempo muito prazerosa, especialmente com essa acolhida que eu recebi hoje.” Conclui Wanda.
Além de escritor, Benedicto também atuou em diversas áreas como Promotor Público, Juiz de Direito, Secretário de Estado e Deputado Estadual, posteriormente cassado em 1964 pelo regime militar, sendo perseguido, preso e torturado.
Grande parte de seu reconhecimento se deve ao modo como ele retratou as narrativas amazônicas em seus trabalhos. Desde a simulação de oralidade, até temas contemporâneos, que comprovam a relevância de sua obra. Alguns de seus romances foram traduzidos e estudados em países como Portugal, Holanda, Itália, Alemanha e Estados Unidos. Além disso, seu livro de contos "O Carro dos Milagres" foi recomendado para o vestibular e adaptado para teatro e cinema.
“Eu aprendi e reaprendi muito nesses últimos dias. A Wanda me convidou para algumas atividades e pude retomar alguns estudos sobre a obra dele, inclusive uma hipótese de trabalho que eu desenvolvi na pesquisa, acabou se confirmando a partir de informações novas que Wanda deu, então foi realmente fantástico.” Diz Tânia Pantoja. A conversa também contou com a participação do público que contribuiu com perguntas e considerações ao final do evento.
A exposição “Benedicto Monteiro - 100 anos” acontece na Galeria Fidanza até o dia 14 de abril. A visitação é gratuita, de 9h às 17h, de terça a domingo.
Texto: Juliana Amaral, Ascom Secult