Na semana em que Belém completa 406 anos de fundação, a Secretaria de Estado de Cultura (Secult), em parceria com a Faculdade de Conservação e Restauração da Universidade Federal do Pará (UFPA) e seu Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação (Lacore), dá mais um passo importante na concretização de revitalização do Cemitério da Soledade, com o início dos trabalhos de restauro do espaço, nesta quinta-feira (13).
As obras, que começarão pela limpeza dos túmulos em pedra do corredor principal, estão orçadas em R$ 16 milhões. A revitalização do espaço resulta de acordo firmado pelo Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (Secult) e a Prefeitura de Belém.
O grupo de trabalho é constituído por docentes e técnicos da UFPA, além de alunos de graduação, mestrado e doutorado, acompanhados por uma equipe técnica da Secult formada por arquitetos, engenheiros e arqueólogos.
No próximo sábado (15) haverá uma aula de Biologia Aplicada com os professores Rosildo Paiva e Solange Costa, da Faculdade de Conservação e Restauro da UFPA. De acordo com a professora Thaís Sanjad, coordenadora do Lacore, esta é uma oportunidade de os pesquisadores colocarem em prática seus conhecimentos.
“Essa parceria entre a Secult e a UFPA possibilita que a gente coloque na prática as pesquisas que já foram desenvolvidas para o Soledade, como dissertações de mestrado, teses de doutorado e trabalhos de iniciação científica que estudaram o processo de degradação, deterioração das sepulturas e materiais destas sepulturas, estudaram técnicas de restauro apropriadas à conservação desse material, e agora têm a possibilidade de aplicar tudo isso na prática, ou seja, eles vão devolver para a sociedade o conhecimento que foi gerado na Universidade. Essa é a importância principal, e também ajudar a recuperar esse patrimônio, que há muito tempo precisa desse cuidado, e agora a gente tem essa possibilidade de estar alinhando ensino, pesquisa e extensão na recuperação, na salvaguarda do patrimônio”, destacou Thaís Sanjad.
Patrimônio - O Cemitério Nossa Senhora da Soledade entrou em atividade em 1850. As pesquisas mostram que o número de pessoas enterradas no local ultrapassa 30 mil, devido principalmente às vítimas de duas epidemias: febre amarela (1850) e cólera (1885).
De acordo com o arqueólogo da Secult, Paulo do Canto, o espaço é um sítio arqueológico com rica monumentalidade, guardando traços artísticos imponentes e simbolismos que apontam diferenças culturais, sociais, econômicas e políticas da sociedade paraense do século XIX.
“Numa breve caminhada por lá é possível atestar estas diferenças, à medida que se observa a forma como foram posicionados os mausoléus e sepulturas menos monumentais, por exemplo. Outro aspecto que chama atenção no cemitério é a divisão sociocultural, levando em consideração a maneira como algumas irmandades religiosas foram dispostas. Até o momento, as pesquisas no local têm demonstrado haver sepultamentos com pouca profundidade no solo; há também indícios de deslocamento de esqueletos e ossos no subsolo, possíveis valas comuns etc. A diversidade arqueológica encontrada é imensa. Dessa maneira, a arqueologia revela substratos analisados, testemunhas de atores sociais, silenciados e consequentemente apagados da memória coletiva. É a materialidade revelando as multivozes que também fizeram história na cidade de Belém”, explicou Paulo do Canto.
Obras em andamento - Atualmente, as obras de transformação do cemitério em um belo parque público prosseguem com a parte de arqueologia e de estrutura de drenagem de águas pluviais, passeio de visitantes, revitalização da capela nos próximos dias (gradil e muro) e o novo pórtico de acesso pela Travessa Dr. Moraes.
Quando concluído, o espaço vai abrigar uma área expositiva na capela, ações de educação patrimonial e informações expográficas em sua arquitetura mortuária restaurada, que abriga belíssimas obras do barroco, neoclássico e neogótico.
Por Josie Soeiro (SECULT)